Que somente o teu povo traduz.
Amapá: Coração do Brasil.
Macapá, 06 de maio de 1954.
Apenas com dois criados.
S' tavam três, pratos na mesa.
Assim como comem os mais.
À mesa Deixou os dois.
Hoje eu como com vocês.
No mesmo instante acabassem.
Macapá 27 de junho de 1954.
Disfarça e assobia.
Matinta Silvar.
Mantinha, a agourar.
Não sabe de nada...
Mas stá me agourando.
Mani confessou...
Oh! Bôto malvado...
Mani! … Que loucura!...
Meu Deus que tortura!...
Não há no roçado.
Sem ter atadura.
O som que assobia.
E fê-la dormir.
E aguarda o porvir.
De noite e de dia.
Tão grande! Luzia...
A luz de um navio.
Que até enjoava.
Brilhava. Eram
Iguais aos dos bois.
Pra junto dos seus.
Onde estavam os meus.
De noite e de dia.
Não minta, confesse...
Que moço descrente!...
Cabado não mente...
E a gente nem sente.
Já fica gelado.
Nervoso, sismado.
Sibila, agorento.
Mas nada avistou.
Numa forma só.
Nem sabe de quê...
Qual ternos maridos...
Tomando os sentidos.
Mas vive feliz.
Macapá, 23 de maio de 1954.
(Lenda Amazônica)
Silvina morava;
No seu tejupar;
E nele a cantar,
Seus dias passava;
Casinha pequena;
Com pé de açucena;
Outro de verbena
Que a moça adorava.
E o povo dizia;
Que dentro, a tapera;
De limpa que era;
Chamava...atraia...
Que tinha puçanga;
Cordoes de miçanga;
Da cor da pitanga;
Com que seduzia.
A mãe, com cautela;
Conselhos lhe dava;
Silvina escultava;
Qual meiga donzela;
Porque, na verdade;
Não tinha vaidade;
Nem tinha maldade;
Porém... era bela...
Tão simples, que um dia;
Despida na areia;
Não viu quem a via...
E desde esse instante;
Um mal excitante;
sem causa...constante...
Roubo-lhe a alegria.
Cunhã despeitada,
Maldosa espalhou:
O boto pegou,
Silvina coitada...
Eu vi, estava alheia...
Despida na areia...
Qual terna sereia...
Na praia deitada...
Silvina encontrou;
Um rosto moreno;
De porte pequeno;
Com quem namorou...
A mãe não queria,
Silvina sabia,
Que um meio existia...
E o boto pegou...
Macapá, 01 de maio de 1954.
Catedral de São José de Macapá
Erguida num passado secular,
Abriga no seu porte de grandeza
A lembrança vetusta e singular
Da arte, do trabalho e da beleza.
Seus traços ogivais emoldurando,
As janelas, as portas e os vitrais,
Parecem relógios sólidos sustentando
O estilo dos bens coloniais.
Unificando forma estrutural,
Maciço pedestal suporta o sino
Da torre que distingue a catedral.
É neste templo que os devotos seus,
Fazem a prece do sagrado hino,
A exaltação das almas para Deus.
Brasil!
Eu te saúdo, oh! Meu Brasil gigante,
Beijando com amor,teu pavilhão!
E chamo numa prece devotante,
Este brado de férvida oração!
Quero te assim: Vibrante, destemido,
Temperado de luz e liberdade;
Primeiro na defesa do oprimido,
Excluindo do crime e da maldade!
Quero sentir, nas réstias matutinas,
O germinar da fôrça consciente,
Espalhando trabalho nas campinas
E progresso por todo continente!
Em teus feitos de glórias redivivos
Anseio agrilhoar a mocidade,
Qual espelho real, de imagens vivas
Refletindo o pulsar da eternidade!
Sacrário de jornadas grandiosas,
Quero-te forte, imperativo, audaz:
Gigante nas conquistas gloriosas,
Invencível nas lutas pela paz!
Felicidade Só é feliz quem sabe perdoar;
Só é feliz quem vive pra esquecer;
Esquecer é dar beijos e sofrer.
Vai no perdão a alma, que quem chora;
Cristalizar com a alma que pecou;
São duas almas soluçando agora;
Esquecendo um suplício que findou.
Esquecer tudo! Esquecer a própria vida!
Soluça eternamente perdoando;
Que tu serás pra sempre a preferida.
Assim minha amada sedutora:
Eu quero que me beijes soluçando;
Numa ânsia feliz e sofredora.
Coração FracassadoMeu pobre coração: Tu fracassaste;
Sofreste a desventura de supor,
Que amando tanto quanto tu amaste
Não podia morrer tão grande amor!
Amor de coração de sentimentos;
De dores de saudade, de alegrias;
De comum tão total de pensamentos;
De sonhos a nascer todos os dias!
Amor que se refundi a cada instante;
Exaltando querer: idolatria!
Amor! Tão grande amor!
Amor constante.
Meu pobre coração: tu fracassaste.
Mas sublime na dor e na agonia:
Ao deixar de bater me perdoa.
Zenar
Porque Te Adoro?Em primeiro lugar: porque és mulher;
Mulher – elevação de sentimentos;
Mulher que tem no peito um coração;
Transbordando de amor e sofrimento;
Adoro o teu olhar – sinceridade;
a franqueza sublime que te adorna;
Adoro o teu viver – sinceridade
que de simples, mas linda inda te torna;
Adoro o teu pensar, o teu querer:
Diferente de todas as mulheres;
Adoro a até o que te faz sofrer;
Porém, mulher o grito: Adoração!
É porque sinto que também me queres
Quando deixas falar teu coração.
Macapá,07 julho de 1954.
Minha Professora Zenar
(O seu Mundo)
Fui vê-la em sua casa pequenina,
Erguida num tapete de gramado,
com flores de fragrância muito fina,
E um jardim de flores semeado.
Ao lado tem um poço redondinho;
Na frente, na entrada, uma puxada;
É modesta, é mimosa, é quase o ninho,
De uma ave que vive enamorada.
Tem um pé de frondoso limoeiro,
Tem fruteiras sem conta, bem tratadas,
E tem, todo florido, um jasmineiro.
Ali ela se esconde da cidade;
Ali suas férias são passadas;
Ali é o seu mundo de verdade.
Macapá, 26 de junho de 1954.
Zenar Mulher
(Primeiro perfil)
Mulher, tem como todas as mulheres
O sublime defeito de mentir;
E assim pecando, nega se disseres
Que o coração nasceu pra sentir.
Não crer no grande afeto que sublime
O querer, o amor, a adoração;
Despreza a transcendência de uma estima
Porque diz que não sente o coração
Foi modelo de um sonho do senhor!
E por muito sofrer se contradiz
Inda que sinta verdadeiro amor
Não é mulher como qualquer mulher
Pode mentir, sentindo o que não diz,
Mas senti loucamente oque disser.
Macapá, 23 de julho de 1954.
Zenar Professora
(Segundo Perfil)Ligou seu coração à sua alma;
E fez da profissão um sacerdócio;
Trabalhou e lutou; ganhou a palma
Da feliz união – desse consórcio.
Agora seu amor, amor ardente;
Na suprema virtude se conduz:
Ensinar e levar a cada instante;
Um bendito clarão, fonte de luz.
É meiga, é paciente com as crianças;
E com elas constrói lindas casinhas
simulando depois fazer a mudança.
E nessa profissão é sedutora,
Porque para ensinar as criancinhas
Deixou de ser mulher: é professora.
Macapá, 27 de julho de 1954.
Zenar Agricultora
(Terceiro perfil)Para ser o complemento do seu mundo
Para horas seguir a pensar;
Na planta que germinar lá no fundo;
E na rosa que vai desabrochar.
Enfrenta as intempérias com bravura
Esquece que a mulher, e logo então:
Para regar as plantas, na secura;
Enverga pressurosa o macacão.
Mas quando chega a hora do sol porto:
O misticismo que a saudade encerra;
Aparece sublime, em seu rosto.
Ela. Porém senhora criadora:
Porque sente pulsar a própria terra;
Não se julga mulher: é agricultora.
Macapá, 27 de junho de 1954.